quinta-feira, 15 de outubro de 2009

História carangueja...



O livro "História da Bahia", do eminente Luís Henrique Dias Tavares, é uma obra interessante.

Poucos conhecem a História desse Estado, sua riqueza e personagens marcantes.

Mas... Algo nos chama a atenção ao longo dessa obra - como de resto em quase todos os livros de História sobre o Brasil: é como se as coisas apenas ocorressem num só lugar: a capital, o litoral...

Lembro-me, no caso do livro do Dias Tavares, de haver procurado um tema específico, pensando algo como: "não tem como este sujeito falar disto sem se reportar ao sertão!".

O tema era o chamado "Mata-Maroto", lutas que duraram mais alguns anos após a Independência brasileira e baiana (para os que não sabem, aqui na Bahia houve lutas, que começaram antes mesmo do tal "Grito do Ipiranga", e só se terminaram quase um ano após ele, a 2 de julho de 1823) - e que ganharam grande relevo nas Vilas de Caetité e Rio de Contas...

Que decepção: o professor Dias Tavares, que parece haver esquecido o parentesco com o gigantesco e genial caetiteense Nestor Duarte Guimarães, enxergou o "Mata-Maroto" como algo do litoral!

Nem, ao menos, se lembrou do também genial Anísio Teixeira - contra quem, aliás, na juventude, Dias Tavares andara a escrever panfletos inflamados - nascido na mesma Caetité que, ao que parece, não existia na História tavariana...

Qual caranguejo, a História fica restrita aos grandes centros e ao litoral brasileiro. A "periferia", coitada - ainda padece de, sei lá, preconceito?

Oh, Minas Gerais!
Criador do "Projeto Manuelzão", o médico carioca e professor da Federal de Belo Horizonte, dr. Apolo Heringer Lisboa, publicou certa feita um livro, escrito por seu pai - Abdênago Lisboa - intitulado "Octacilíada - uma epopéia do Norte de Minas".

Quando tive a obra em mãos, olhei-a com aqueles olhos de quem procura algum elo com a minha aldeia. Sem muita esperança, é claro: afinal, era sobre Minas Gerais. E, se nem um historiador baiano falava de Caetité, muito menos aquela... EPA!

Foi como se um gelo me percorresse a espinha! Em meio a páginas de fotografias, deparei-me com uma - muito, muito antiga - de um tal João Caetano. Não era nada, não: era ninguém menos que o sujeito que, duzentos anos atrás, construíra a casa em que moro! E de quem eu nunca soubera houvesse uma fotografia!

E foi então que passei a descobrir, em muitas obras da História mineira, que Caetité estava lá! Porque, mesmo os caranguejos tavarianos fingindo não saber, o Sertão produziu muita coisa, influiu (e influi) em muitas outras.

Eu, que achava que a ligação com Minas e Caetité vinha do Neves do Tancredo (sim, saiu daqui), ou dos povoadores cultos da cidade, mineiros fugindo na época da Inconfidência, ou mesmo com o prosaico estudo na cidade do esperto (mas não culto) Newton Cardoso, passei a colecionar pérolas, como "Raízes de Minas" do Ribeiro Pires - a falar dessa minha aldeia - ainda ignorada pelos caranguejinhos...

Dividamos a Bahia, ora pois!

A idéia, fracassada quando da Constituinte em 1988 - graças a uma bela campanha feita em Salvador - a terra dos caranguejos - com o singelo slogan "Alto lá! A Bahia ninguém divide" - seria uma das soluções para termos um governo que não ficasse, assim como os caranguejos, voltado somente para a Capital...

A Bahia, gigantesco como Estado, é algo miúdo por conta de seus políticos. Enquanto Minas Gerais tem lá suas 20 Universidades Federais, a Bahia tinha apenas uma. Quando o Lula criou (dizem) a Universidade do São Francisco, o rio que tem sua maior extensão nesse mesmo esquecido sertão, olha só onde foi ficar a sede: em PERNAMBUCO! Que já tinha, sei lá, três ou quatro Federais! O Pernambuco de Lula é uma tripinha, comparado à abandonada Bahia!

Para "compensar" tal desfeita, lá veio o bondoso Lula criar outra Federal na Bahia. Sabem o que ele fez? Criou a Federal onde a UFBA tinha o Campus de Agronomia, e batizou-a com o nome do Recôncavo...

O povo lê Bahia e entende que o estadinho limita-se à baía... de todos os santos e caranguejos!

Por isso, tenho como herói alguém que Salvador matou como bandido: Horácio de Matos. Horácio, nos idos dos anos 20 do século passado, criou o "Governo de Lençóis" e, dali, da cidade incrustada na bela Chapada Diamantina, mandava no Sertão.

Já antes o caetiteense Rodrigues Lima cogitou mudar a Capital para Vitória da Conquista. Chamaram-no, os caranguejos do século XIX, de louco; mas era mesmo por saber que os caranguejinhos morrem de medo de olhar a terra!

Tem esperança?
Ufa! Escrevi demais! Mas tava pensando nessa moça, a Dilma Roussef. A que quer ser nossa primeira Presidenta. Ela é mineira...

Mais: há uma semana (dia 7 de outubro de 2009), no aniversário do "quase" caetiteense e primo distante Haroldo Lima, Dilma em discurso fez uma revelação: declarou-se bisneta de um caetiteano.

Tudo bem que não falou caetiteense... Mas ela tem raízes aqui! Vai que ganhe a eleição? Ao menos, quem sabe, não olhe o sertão com os olhos de peixe morto de um Wagner, ou mesmo dum Magalhães...

Porque Lula, esse que assistiu sua "virada" ocorrer na "caetiteense" Vitória da Conquista, fez nada não.

E, já que não vamos nos emancipar dessa Baía (sem h, que não merece), não nos custa sonhar...

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