terça-feira, 17 de maio de 2011

Adeus a Omar

Mais um vazio em Caetité
15 de maio de 2011, dia em que tiramos a foto mais abaixo, perdemos o amigo e colega Omar Montenegro Cerqueira de Oliveira.


Quando eu estava no pré-primário, na Escola de Aplicação Anexa ao Instituto Anísio Teixeira, minha sala ficava ao fim do corredor. Do outro lado ficava a sala do segundo ano primário, era onde Omar estudava. Acho que esta é a minha mais antiga lembrança desse amigo que, desde aquela época, já era um pequeno “playboy”, ou “bad boy” – à falta de termos melhores em nosso idioma para definir aquilo que o menino já mostrava ser...


Consegui uma fotografia daquela época, onde ele aparece, criança, com aquele cabelão “jovem guarda” dos anos 1970; foi um achado, e não pude deixar de lhe falar, quando o encontrei pouco tempo depois - e combinarmos em breve repassar-lhe a cópia... Mas isto nunca aconteceu, ela veio parar aqui nesta despedida...

Cresci numa Caetité em que Omar era sinônimo de boa vida, onde encontrá-lo era o mesmo que ver belas companhias; mesmo quando ambos moramos em Salvador, começo da adolescência, encontrávamos no apartamento do Rívoli onde Opalah reunia a “galera de Caetité”: ele sempre aparecia, acompanhado do então amigo inseparável Paulo César...

São muitos os casos, as lembranças; nunca brigamos – o que deve ser digno de nota! Éramos todos briguentos, na juventude! Fazia parte... Mas eu e ele nunca! E mesmo para aqueles com quem brigava, logo estava arrependido, tentando se desculpar (bem diferente de mim). Na minha juventude, quando eu achava que estava isolado, ou até que ele nem se lembrava de mim, privamos de vários momentos de bom bate-papo – algo não muito comum, numa época em que um ou dois anos de diferença na idade eram quase um abismo a separar as turmas.

Lembro-me que uma vez Omar abriu um boteco, que logo fechou; fechou bem rápido! Um dia perguntei onde ficava e ele contou-me que já não existia mais, queixando-se dos “maus pagadores”... Eu sorri e comentei: o problema é que vendia fiado aos amigos – e os amigos eram muitos!

Omar formou-se em Direito no ano de 2001, em Poços de Caldas, e voltou a Caetité. Não sei se era sua “praia”, é uma praia árdua, ingrata, as lides jurídicas... Um dia ele me propôs abrirmos um escritório juntos. Queixava-se de ficar sozinho na casa, e falou-me de suas andanças solitárias de moto, da vez em que pedira a Deus um sinal – e este lhe respondera...

Senti-lhe esse vazio que o tempo cria. Tentei enxergar aquele cara que todos invejávamos, anos atrás. Mas já tudo estava diferente de todo o antes. Lá pelas tantas eu lhe pedi para não contar aquelas coisas pra qualquer um, pois a maioria das pessoas não as compreendia...

O lado místico, verdadeiro, da vida, nos chama sempre. Para Omar, a perda da mãe amada foi este chamado – talvez como o foi para mim a perda da minha mãezinha. Aquelas horas que passamos, conversando, me soaram um tanto confusas –as coisas andam assim... Por fim, brinquei, como o pai dele fizera comigo, outro dia: vão dizer que aderimos politicamente, se o virem aqui em casa! Ele riu, e respondeu sério: “Que se dane o que vão dizer!”


Gostava de contar os filmes que vira. Uma vez, no fórum, narrou-me quase toda uma comédia – que depois assisti, lembrando de como aquelas cenas divertiram-no...

Hoje, dia em que deveríamos começar uma semana, meu peito está esfacelado... Uma dor de quem pensa que poderia ter feito mais pelo amigo, estado mais perto, ter rido mais da brincadeira que ainda ontem ele me fizera, dizendo que eu lhe tirara das mãos um cravo que fora lançado por um jovem noivo...

Mas sei que não tirei-lhe o cravo da mão, ontem. Ele apenas nos divertia, como sempre o fez. Omar sempre nos divertiu, sempre... Mas não agora! Sua perda longe está de ser algo assim – e a imagem que fica é de que nossa cidade, que cresce como nunca, acaba mais uma vez ficando menor!
Caetité, 16 de maio de 2011