segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Adeus a mais um grande caetiteense


Oliveiros Guanais Aguiar faleceu. Sua terra natal praticamente silenciou-se, mergulhada na ignorância dos feitos de seus filhos verdadeiros...
Enquanto fingimos ter um governo “socialista”, perdemos um verdadeiro líder estudantil, que presidiu a UNE – União Nacional dos Estudantes nos difíceis anos que antecederam a Ditadura Militar, em 1960 e 61, e um dos grandes médicos que o Estado da Bahia já produziu.

Formado em Medicina, foi o Caetiteense Oliveiros Guanais dos maiores anestesistas da Bahia. Seu conceito profissional fê-lo integrar o Conselho Federal de Medicina. Sobre o líder estudantil, emitiu a UNE a seguinte nota:

Nota de Pesar pelo Falecimento do Presidente da União Nacional dos Estudantes – UNE (1960-61) Oliveiros Guanais Aguiar

É com grande pesar e tristeza que recebemos nesta segunda-feira, dia 23 de novembro de 2010 a notícia do falecimento de Oliveiros Guanais Aguiar, Presidente da União Nacional dos Estudantes entre 1960 e 1961.

Oliveiros Guanais, como ficou conhecido no movimento estudantil, foi presidente da União dos Estudantes da Bahia (UEB) e, posteriormente, eleito Presidente da UNE. Formado em Medicina, Guanais continuou sua “militância” no Conselho Federal de Medicina e teve sua trajetória profissional reconhecida presidindo o 22º Congresso Nacional de Anestesiologia.

Há 50 anos sua gestão realizava o Seminário Nacional de Reforma Universitária em que a UNE elaborou, pela primeira vez, seu programa para a Universidade Brasileira, a Declaração da Bahia.

Lamentamos profundamente sua morte e retomando um trecho da Declaração da Bahia, da qual foi um dos principais artífices: “(…) uma Universidade infiel às suas responsabilidades históricas estará conformando uma sociedade incapaz de auto superar-se, insensível à crítica.”

Nossa geração lhe é grata e a nossa luta por uma Universidade a serviço do povo brasileiro persiste!

São Paulo, 23 de novembro de 2010.

União Nacional dos Estudantes


Já o CFM emitiu a seguinte nota de pesar:

CFM lamenta o falecimento do ex-Conselheiro Oliveiros Guanais de Aguiar

O Conselho Federal de Medicina (CFM) lamenta, com pesar, o falecimento do médico Oliveiros Guanais de Aguiar, ocorrido neste domingo (21). Natural de Caetité (BA), o médico formou-se em 1961 pela Universidade Federal da Bahia e especializou-se em Anestesiologia. O corpo foi velado no Cemitério Jardim da Saudade, em Salvador, onde também ocorreu a cremação, às 15:00.

Dr. Guanais foi conselheiro do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), em duas gestões: de 1968 a 1973, tendo assumido a 1ª Secretaria da Diretoria de 1971 a 1973, e de 1993 a 1998.

Também representou os médicos baianos como conselheiro federal, na gestão 1999-2004, quando integrou o Conselho Editorial da Revista Bioética. "Oliveiros foi considerado um dos conselheiros mais eficientes que o Cremeb já teve. Um homem inteligente, culto, polêmico, muito fluente e muito bem preparado para a função" – declara o presidente do Cremeb, Jorge Cerqueira, que esteve presente à cerimônia desta tarde.

O CFM lastima o falecimento do ex-conselheiro e se solidariza com familiares e colegas de trabalho.


Assim, como cidadão caetiteense, resta-me lamentar que os verdadeiros representantes de nossa cidade tenham guardado o constrangedor silêncio. Revelamos ao mundo, mais uma vez, que a falta de valores em Caetité se patenteia em não reconhecer os valores que efetivamente temos. Lamentamos não somente a morte deste filho ilustre, mas sobretudo o silêncio dos abutres...

André Koehne

Escrevi esse texto há algumas semanas... Sempre me toca não somente a perda de grandes nomes, mas sobretudo o descaso com que essas perdas "passam". A imagem que ilustra este artigo veio da Wikipédia, foi tirada pelo seu filho Fred, que então conheci "pela internet". Não foi fácil mantermos o verbete do grande caetiteense: queriam fontes, e tivemos que adequar o texto às exigências. O biografado ainda estava entre nós - e me escapa saber se um dia chegou a ver-se ali... Mas não importa! Importa-me saber que, mesmo no anonimato, ajudei a manter acesa a memória em Caetité. Meus sentimentos sinceros de pesar, sobretudo ao Fred e à "tia" Palmira - esta última minha dileta Confreira de Academia - e que me fez conhecer do Dr. Oliveiros um dos seus "lados" mais prazeirosos: o do irmão. E é como um irmão caetiteense - de verdade, não dos pseudo-caetiteenses sem memória e sem respeito - que esta minha lágrima aqui junta a falta com a mais profunda admiração ao grande conterrâneo, cuja memória vencerá aqueles que mal enxergam além do outdoor dos templos e dos vendilhões...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Coelho na cartola



Parece que virou lugar-comum, ao menos nas revistas que tratam de literatura ou mesmo na internet - menosprezar o trabalho do Paulo Coelho.

Nunca entendi direito a motivação para tal. Lembro-me duma charge em que o rato de sebo mandava um burro ler livros de auto-ajuda, Paulo Coelho e, se um dia lesse Machado de Assis... que voltasse dali a 20 anos...

Paulo Coelho faz sucesso, é membro da Academia Brasileira e, não bastasse o sucesso internacional de ser lido em diversos países, sua obra é considerada "menor"...

O que faltou ao Coelho para merecer cidadania literária? Criatividade? História? Falar de temas cotidianos de modo barroco? Ter nascido no século XIX, talvez...

Ou, quiçá, haver nascido no Brasil da virada do Milênio o torne menor do que realmente é?


Tudo isto porque, há pouco tempo, a França celebrou o sumiço do escritor Antoine de Saint-Exupéry, desaparecido misteriosamente durante a II Guerra Mundial. Autor do livro infanto-confuso "O Pequeno Príncipe" (Le petit prince). Obra-prima lida por todas as misses nos concursos de tempos passados, para aqueles que não se lembram ou não eram nascidos... Pois a França celebrou sua memória, nos 65 anos sem o autor do livreto das misses.

Como se fora um heroi nacional francês, o autor de O Pequeno Príncipe foi (e é) cultuado.

Cá eu comigo penso... Que diabos de literatura é O Pequeno Príncipe para que figure num patamar acima de... Diário de um Mago, por exemplo?

Entre um e outro, a qualidade do autor brasileiro é mil vezes superior; a seu favor conta, ainda, o fato de que foi lido por um presidente dos EUA - o equivalente moderno das antigas misses? Pois que não me consta seja o Paulo Coelho a leitura de misses...

Acho, mesmo com base em algo que escrevera Anísio Teixeira muito tempo atrás, que inda estamos divididos - os intelectuais - entre aqueles que fingem saber e os que falam mal dos que sabem...

Infelizmente para nossa memória, e para o Paulo Coelho, os da segunda espécie são os modernos Paulo Francis - fracassados a deitar o cacete naqueles que conseguiram...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Filhote da ditadura: a impunidade



A imagem ao lado faz parte dum email tipo spam que recebi, e que trata a Ministra Dilma Roussef como terrorista, que efetivamente foi.

Mas a questão de fundo é pior, mais suja e nojenta: trata de defender a impunidade de criminosos que, em nome do Estado que tomaram covardemente à força, querem justificar seus crimes dizendo que "o outro lado também os cometeu".

Isto, hoje, faz com que fechemos os olhos à pena de morte aplicada por policiais militares despreparados, e que muitas vezes atende a encomendas de quadrilhas, sistemas primitivos de vingança e outras - como uma que ocorreu no final de 2009 na Região Metropolitana de Salvador - uma terra sem lei - para ficarmos num pequeno e trágico exemplo que se alastra do Oiapoque ao Chuí.

A Ditadura Militar brasileira foi o que de mais abjeto poderia ter ocorrido em nossa história. Começou pelo crime de lesa-Constituição, que foi a de derrubar um estado de direito. Nada, portanto, feito sob a égide disto, pode ser justificável: o militar jura cumprir a Carta Maior do seu país. Qualquer militar - de ontem ou de hoje - que justifique esse golpe canalha, fere antes a si próprio, em sua honra de servir ao seu povo.

A ditadura, e não a democracia que derrubou acusando de corrupção, foi quem introduziu no Brasil a impunidade. Tanto na política, como fora dela. Foi das fileiras de nosso Exército que saiu o Capitão Guimarães, bicheiro e chefe de quadrilha do conflagrado Rio de Janeiro: o Exército, bem antes das chamadas "ações pacificadoras", já ocupara os morros... Da pior e mais cruel forma possível.

Ao deixar os quartéis, não para defender o povo brasileiro, mas para arvorar-se em tutor do mesmo, nossos militares se associaram à pior espécie de bandidos: aquela que se arma das próprias instituições para a prática dos delitos.

Falam do avanço econômico - mas todo ele foi feito num "milagre" que ergueu grandes empreiteiras que, para além de obras faraônicas, se especializaram numa coisa só: superfaturar e dividir a bolada, em expressões que - de tão comuns - são usadas até pelo presidente como desculpa - como a tal "caixa dois"...

A coisa foi tão gritante que hoje não há uma só estrutura do Estado que seja confiável. Os três poderes (em minúsculo) em todas as suas esferas, se corrompem. E, por estarem tão corrompidas, o dinheiro faz criar uma aura de impunidade que se efetiva proporcionalmente ao poder aquisitivo do infrator.

Autora de coisas como a Lei Fleury - algo tão abjeto que leva o nome de seu beneficiário - a Ditadura volta a chorar por impunidade... Por que o medo de nossa justiça? Afinal, o sistema que legou-nos de herança não é justamente aquele que nunca pune os que podem pagar?

Me perdoem os bons militares que souberam reconduzir o país à normalidade, e mesmo hoje lutam para mantê-la, honrando seu juramento à Pátria e à Constituição; mas a "defesa" que tentam agora fazer é mesmo um acinte à História, á Decência!

Por que não usam dos recursos usados para atacar uma Ministra - que será julgada, espero, pelas urnas - para protestar contra a impunidade, o mal que continua matando milhares de brasileiros a cada ano?

Ou, então, teremos que voltar a ouvir a frase que vocês, que cuspiram na Ordem em 1964, tanto repetiam: "Você sabe com quem está falando?"...