quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

FELIZ 2010 A TODOS



QUE EM 2010 TODOS NÓS (menos aqueles que não merecem) ESTOUREMOS A BOCA DO BALÃO.

MUITA PAZ, MONEY, FELICIDADE, SAÚDE...

...E DISPENSARES, SEMPRE.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Curtas caetiteenses

INAUGURANDO O NATAL

Caetité é a única cidade do mundo que pinta asfalto de preto; agora, já que a máxima "pão e circo" se resume apenas ao "circo", temos a "Inauguração do Natal". Festona! Isso, e aquela festona para inaugurar um mastro na pracinha da Feira, mostra como vamos bem de obras públicas...

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MUITA CHUVA

O Governador Jaques Wagner veio a Caetité. Na Praça da Catedral vazia, Wagner discursou. Não falou muita coisa que preste, mas com certeza o mandatário maior do Estado falou duas coisas verdadeiras:

Uma: mandou o povo ao lado dele calar a boca - de fato, falam demais e fazem de menos.

Duas: criticou o povo que pula de partido a cada eleição. Recado para o atual Prefeito, que ninguém sabe de que partido é, ou era, ou será?

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MUITA CHUVA 2

Cai um pé d'água em Caetité, e na vizinha Igaporã só uma neblina. Enquanto isso, rios de dinheiro para as viagens diárias de médicos oftalmologistas que, de avião, aterrissam na cidade para operar o povo que tem catarata e votará ano que vem. Daqui a quatro anos, acho, o avanço da medicina voltará ao nosso sertão.

Pra uma cidade governada por um "socialista" com uma "comunista", eu achava que fosse melhor ensinar a pescar do que ficar dando o peixe. Por que não investir esse rio de dinheiro com bolsas de estudo para médicos daqui mesmo se capacitarem? Assim, em vez de esmolas em anos de eleição, teríamos experts permanentemente... Afinal, doença é como a fome: acaba hoje, amanhã tem mais.

Ou será que o clientelismo aéreo dos nossos "socialistas" não é mais "clientelismo"?

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MUITA CHUVA 3

Abriu-se um buraco na esquina da avenida com o beco do Supermercado Cruz. Há um ano, xingavam o prefeito; agora, foi coisa da água mesmo...

Sinal dos tempos. Ou de falta de liderança na oposição?

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Puta Genoína...


Foi no Senado da República que certa feita ouvimos, da tribuna, um vetusto parlamentar proferir, a um seu colega:
Prostituta pregando castidade.
Não somos dos que acreditam que os prostituídos deixem de pregar castidade; entretanto, Silvio Berlusconi pode enganar a Itália por algum tempo, mas não toda a União todo o tempo... Assim, ao menos, esperamos.

Tampouco somos daqueles que assistem passivamente longos discursos da tribuna da Câmara dos Deputados, como o proferido neste começo de novembro pelo deputado "assessor-com-dólar-na-cueca" José Genoíno.
O companheiro, descaradamente em defesa própria, chegou a acusar a CNBB de nazista! Por propor, junto a um milhão e meio de brasileiros honestos (que, com certeza, não têm assessores, muito menos assessores pilhados com dólares), que candidatos de ficha suja tenham seus registros negados pela Justiça Eleitoral.

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Genoíno já foi um dos meus ídolos. Quando falava, vejam só, o oposto! Quando, sem ter arrastando nas roupas íntimas a lama que o persegue, pregava a castidade (no caso, a ética na política)...

Fui de um tempo em que admirávamos o líder estudantil José Dirceu que, perseguido pela Ditadura, tinha no seu encalço - lá por volta de 68, aquele ano que não acabou, como constatou o Zuenir - uma espiã do SNI (já era SNI?) chamada - vejam só - Heloísa Helena! Claro que é só uma coincidência de nomes, porque a atual Heloísa Helena, bem mais nova, não foi espiã, foi EXPIADA pelo Zé Dirceu, como todos devem se lembrar.

Zé Dirceu caiu, e caiu porque um velhinho meteu-lhe uma bengala na cabeça; e uma bengalada daquelas que somente tiveram efeito porque foi filmada; e exibida - para bem mais dos um milhão e meio que assinam a justa tentativa moralizadora da CNBB...

Mas, vejam só, Dirceu caiu como deputado; justamente onde fora se esconder - friso bem isso - se esconder da justiça, para não ter de ser processado pelo tal do Mensalão que agora o Berzoini disse ter ouvido falar... (a Dilma, não. Ela também não sabia de nada...)

Nesse diapasão, nada mais genoíno desse genuíno de*puta*do que reclamar da CNBB - a ponto de comparar a entidade com algo como o pérfido nazismo...

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Não, hoje ninguém parece entrar no respeitável parlamento brasileiro com bengalas. Nem eu, sequer, tinha a minha (eu não tenho bengala, pô!) para simular uma bengalada na cabeça e na cueca do Genoíno pelo monitor da tevê...

A Tribuna, onde esperava eu ouvir propostas contra a criminalidade do Rio que se espalha, espalhando o câncer do crack em nossos meninos e meninas, foi usada pelo José Genoíno, companheiros, para denegrir UM MILHÃO E MEIO DE BRASILEIROS HONESTOS!!!!

Sabem o que me consola?

Que o Genoíno não é mais nada; nem pálida sombra do homem que já foi, até a tal cueca aparecer...

Que seu imenso discurso teve apartes de apoio de gente do DEM, de gente que deve mais ou tanto quanto ele...

Que ninguém acredita nele...

Que ainda falam, lá no Senado, que são mesmo prostituídos falando em castidade...

Mas, parafraseando a companheira Marta, deixo aqui meu quase anônimo protesto:

"Cala a boca, Genoíno!"

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ui-que-pedia


Ou: Como ter um verbete jogado no lixo

Passei um bom tempo de minha vida editando na versão em português da Wikipedia. Cheguei, a contragosto, a ser "administrador" lá e, também a contragosto, deixei de sê-lo.

Muita gente "mora" na Wikipédia lusófona; alguns têm lá suas brigas, seus desentendimentos, que se arrastam por meses, anos até, sem que haja qualquer solução; porque na qualidade de internautas, gozam da memória extra do computador para não esquecerem jamais (e, consequentemente, nunca perdoarem); há, também, no caso da Wikipédia, uma memória extra - já que todas as edições feitas ficam indeléveis nos históricos de cada página: esse o combustível. Os usuários que não perdoam, são o comburente...

Meu "compromisso" em editar ali era o chamado "domínio principal" - os verbetes propriamente ditos, seu conteúdo. Milhares de edições, consertos, uma luta por levar informações nem sempre fáceis de obter. Uma chance única, por exemplo, de poder falar de figuras que dizem respeito à história da minha cidade, do Estado da Bahia e, enfim, do mundo todo.

Partindo da aldeia pequenina, para a aldeia global.

Tive, até, a felicidade de, no passado, comprovar na prática a importância desse trabalho, quando via alunos do nível secundário e até da universidade, tomando por base coisas que eu havia escrito ou ajudado a escrever, um dia...

Mas, como já falei, as disputas surgidas nunca são abandonadas. Não quero dizer que não as tenha provocado, com o jeito ríspido de "falar" - mas nunca entendi o motivo de alguns usuários simplesmente se antipatizarem perpetuamente...

Saí do projeto, depois de mudar meu "nome" - tinha usado o nome verdadeiro e acabei sendo xingado por irresponsáveis anônimos (claro, escondidos por "nomes" criados para o registro ali).

Como recentemente disseram, volto como "turista". Mas mesmo como turista é difícil continuar... E, infelizmente, como eu dezenas de outros usuários mais assíduos foram embora, quer permanentemente, quer com voltas esporádicas.

Fiz grande amizades na Wikipédia. Um cearense, morador de Londres, por exemplo, chamado "MHV"... Depois, ele saiu do projeto e, numa das voltas últimas, veio para brigar comigo... É estranho isso, pois até agora não vejo o que fiz a ele pra que isso se desse assim. Mas tenho ainda enorme carinho por ele, e todos com quem pude travar esse estranho relacionamento amistoso que a internet nos proporciona...

Há uma página na qual podemos observar o que vem ocorrendo; chamada de "mudanças recentes", retrata tudo o que ultimamente vem se passando. Ali vi, há pouco, que um anônimo havia escrito algo indevido num verbete intitulado "Justiça Especial". Ao ler o conteúdo, porém, vi que o conceito dado era totalmente diverso daquele que o Direito brasileiro determina; apaguei e reescrevi. Mas sei que, daqui a algum tempo, o verbete estará todo "manchado" - cheio de marcações e vandalismos não revertidos.

Porque, com a diminuição dos que efetivamente colaboravam contra os vândalos de conteúdo, as reversões de erros acabam ocultando erros mais antigos, até termos coisas como o Farsa de Inês Pereira, que registra:
Entretanto entram em peça dois “cimenteieros judeus” que também cuidavam de arranjar cimento para +3, e se bem procuraram melhor acharam e Inês se casa com um escudo, de sua graça Bras da Mata

Trazendo frases que um dia foram:
Inês Pereira, moça simples e casadoira mas com grande ambição procura marido que seja astuto, sedutor, “que saiba tanger viola, e eu coma cebola.”

mas que, quando escrevo, estão:
Inês, moça simples e casadoura mas com grande ambição procura marido paniscao que seja astuto, sedutor, “que saiba tanger viola, e eu coma coco.”

Comer coco ou cebola não têm tanta diferença - especialmente para a qualidade dos que preferem brigar entre si do que ver o que se vai no domínio principal (verbetes).

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Hoje não vejo mais, como antes, as pessoas a consultar a Wikipédia... A começar por minha filha, que ali se servia e agora, simplesmente, torce o nariz quando lhe falo desse projeto...

É que as pessoas não ficam comendo coco, quando compram cebolas. Acho...

Ao propor como destaque o verbete Agricultura no Brasil, acabei ouvindo coisas como "nenhum agrônomo, por exemplo, leria esse artigo e votaria a favor". Nem respondi mais, talvez em consideração ao meu cunhado, ex-diretor da EBDA, e que me deu oportunidade de ilustrar o verbete com várias de suas plantações, autoridade que é em fruticultura, algodão e tantas cositas más...

A verdade na wiki é assim: um sujeito qualquer vai lá, diz que um agrônomo não iria gostar de algo - e o que ele falou é incontestável. Pensei até em convidar o cunhado pra rir comigo do tal comentário, mas ele é muito ocupado pra isso...

Fica-me o consolo, entretanto, de saber que a Wikipédia poderia ter sido uma experiência única de democratizar o conhecimento; foi o que fiz e não me arrependo.

Mas fica, também, a constatação de que num espaço de birras e mediocridades, o resultado final é que estaremos comendo coco no lugar de cebola...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

História carangueja...



O livro "História da Bahia", do eminente Luís Henrique Dias Tavares, é uma obra interessante.

Poucos conhecem a História desse Estado, sua riqueza e personagens marcantes.

Mas... Algo nos chama a atenção ao longo dessa obra - como de resto em quase todos os livros de História sobre o Brasil: é como se as coisas apenas ocorressem num só lugar: a capital, o litoral...

Lembro-me, no caso do livro do Dias Tavares, de haver procurado um tema específico, pensando algo como: "não tem como este sujeito falar disto sem se reportar ao sertão!".

O tema era o chamado "Mata-Maroto", lutas que duraram mais alguns anos após a Independência brasileira e baiana (para os que não sabem, aqui na Bahia houve lutas, que começaram antes mesmo do tal "Grito do Ipiranga", e só se terminaram quase um ano após ele, a 2 de julho de 1823) - e que ganharam grande relevo nas Vilas de Caetité e Rio de Contas...

Que decepção: o professor Dias Tavares, que parece haver esquecido o parentesco com o gigantesco e genial caetiteense Nestor Duarte Guimarães, enxergou o "Mata-Maroto" como algo do litoral!

Nem, ao menos, se lembrou do também genial Anísio Teixeira - contra quem, aliás, na juventude, Dias Tavares andara a escrever panfletos inflamados - nascido na mesma Caetité que, ao que parece, não existia na História tavariana...

Qual caranguejo, a História fica restrita aos grandes centros e ao litoral brasileiro. A "periferia", coitada - ainda padece de, sei lá, preconceito?

Oh, Minas Gerais!
Criador do "Projeto Manuelzão", o médico carioca e professor da Federal de Belo Horizonte, dr. Apolo Heringer Lisboa, publicou certa feita um livro, escrito por seu pai - Abdênago Lisboa - intitulado "Octacilíada - uma epopéia do Norte de Minas".

Quando tive a obra em mãos, olhei-a com aqueles olhos de quem procura algum elo com a minha aldeia. Sem muita esperança, é claro: afinal, era sobre Minas Gerais. E, se nem um historiador baiano falava de Caetité, muito menos aquela... EPA!

Foi como se um gelo me percorresse a espinha! Em meio a páginas de fotografias, deparei-me com uma - muito, muito antiga - de um tal João Caetano. Não era nada, não: era ninguém menos que o sujeito que, duzentos anos atrás, construíra a casa em que moro! E de quem eu nunca soubera houvesse uma fotografia!

E foi então que passei a descobrir, em muitas obras da História mineira, que Caetité estava lá! Porque, mesmo os caranguejos tavarianos fingindo não saber, o Sertão produziu muita coisa, influiu (e influi) em muitas outras.

Eu, que achava que a ligação com Minas e Caetité vinha do Neves do Tancredo (sim, saiu daqui), ou dos povoadores cultos da cidade, mineiros fugindo na época da Inconfidência, ou mesmo com o prosaico estudo na cidade do esperto (mas não culto) Newton Cardoso, passei a colecionar pérolas, como "Raízes de Minas" do Ribeiro Pires - a falar dessa minha aldeia - ainda ignorada pelos caranguejinhos...

Dividamos a Bahia, ora pois!

A idéia, fracassada quando da Constituinte em 1988 - graças a uma bela campanha feita em Salvador - a terra dos caranguejos - com o singelo slogan "Alto lá! A Bahia ninguém divide" - seria uma das soluções para termos um governo que não ficasse, assim como os caranguejos, voltado somente para a Capital...

A Bahia, gigantesco como Estado, é algo miúdo por conta de seus políticos. Enquanto Minas Gerais tem lá suas 20 Universidades Federais, a Bahia tinha apenas uma. Quando o Lula criou (dizem) a Universidade do São Francisco, o rio que tem sua maior extensão nesse mesmo esquecido sertão, olha só onde foi ficar a sede: em PERNAMBUCO! Que já tinha, sei lá, três ou quatro Federais! O Pernambuco de Lula é uma tripinha, comparado à abandonada Bahia!

Para "compensar" tal desfeita, lá veio o bondoso Lula criar outra Federal na Bahia. Sabem o que ele fez? Criou a Federal onde a UFBA tinha o Campus de Agronomia, e batizou-a com o nome do Recôncavo...

O povo lê Bahia e entende que o estadinho limita-se à baía... de todos os santos e caranguejos!

Por isso, tenho como herói alguém que Salvador matou como bandido: Horácio de Matos. Horácio, nos idos dos anos 20 do século passado, criou o "Governo de Lençóis" e, dali, da cidade incrustada na bela Chapada Diamantina, mandava no Sertão.

Já antes o caetiteense Rodrigues Lima cogitou mudar a Capital para Vitória da Conquista. Chamaram-no, os caranguejos do século XIX, de louco; mas era mesmo por saber que os caranguejinhos morrem de medo de olhar a terra!

Tem esperança?
Ufa! Escrevi demais! Mas tava pensando nessa moça, a Dilma Roussef. A que quer ser nossa primeira Presidenta. Ela é mineira...

Mais: há uma semana (dia 7 de outubro de 2009), no aniversário do "quase" caetiteense e primo distante Haroldo Lima, Dilma em discurso fez uma revelação: declarou-se bisneta de um caetiteano.

Tudo bem que não falou caetiteense... Mas ela tem raízes aqui! Vai que ganhe a eleição? Ao menos, quem sabe, não olhe o sertão com os olhos de peixe morto de um Wagner, ou mesmo dum Magalhães...

Porque Lula, esse que assistiu sua "virada" ocorrer na "caetiteense" Vitória da Conquista, fez nada não.

E, já que não vamos nos emancipar dessa Baía (sem h, que não merece), não nos custa sonhar...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

200 anos de Caetité - erros históricos


Uma cidade fazer 200 anos é algo raro. Caetité era uma das trinta e oito unidades municipais que existiam na Bahia do Brasil-Colônia, em 1810 quando, depois de mais de uma década de lutas, os seus cidadãos finalmente conseguiram comprar a emancipação da Vila de Nossa Senhora do Livramento de Rio das Contas (uma vila que se emancipara em 1724 como Livramento mas que, dois anos mais tarde, transferiu-se para Rio de Contas).

O de que falaremos aqui é sobre como uma cidade erra sobre sua própria história e de como apenas a preguiça em ler pode causar um erro tal...

Ocorre que, a despeito de ser pacífico entre os historiadores sérios a data de emancipação da cidade o 5 de abril de 1810, de há muito os órgãos oficiais (municipais, alguns estaduais e até federais) consignavam, num circuito vicioso, como data maior de Caetité o dia 12 de outubro de 1867...

A professora Helena Lima Santos, irmá do ex-Primeiro-Ministro (o último do Brasil, nos conturbados anos do governo Jango), autora do maior livro sobre a história caetiteense, dedicou uma linha na sua obra "Caetité, Pequenina e Ilustre" ao fim do capítulo que trata da nossa emancipação. Quando da segunda edição da obra, em 1996, sabe-se lá por qual motivo, o editor (que foi ninguém menos que seu filho Maurício), transformou essa mesma linha em "capítulo" à parte, com o título pomposo de "Elevação a Cidade e Grafia de Caetité". A linha de que falamos diz, exatamente:
A vila foi elevada à (sic) cidade pela Lei 995 de 19 (sic - deveria estar 12) de outubro de 1867.

Assim, com esses dois errinhos - um de português, outro de data mesmo - é só isso que traz esse livro; e nem poderia ser diferente: essa leizinha não significa nada: nem historicamente, nem simbolicamente...

Uma linha, somente. Para os que não gostam de ler essa linha passou a ter mais valor do que as 5 páginas e um parágrafo que compõem o Capítulo precedente: "Criação da Vila".

Assim foi que fizeram do dia 12 feriado municipal (como se já não o fosse nacional, dia da Padroeira Nossa Senhora Aparecida), e puseram o ano da insignificante lei 995 como nossa "data maior": o Brasão de Caetité passou a ostentá-la! Roubando nada menos que 57 anos de vida citadina; inexplicável, portanto, como dizer que a Imperial Vila da Vitória poderia ter daqui se emancipado em 1840 - se sequer existíamos, na visão destes!

Sem sermos emancipados, como teriam os vereadores manifestado apoio a D. Pedro I? E o que dizer de nossos Intendentes (como eram chamados os prefeitos), como Antonio de Souza Maciel (1810-14), Francisco Rodrigues Carneiro (1815-18), Caetano Pires Bandeira (1819-22), Jorge da Silveira Machado (1823-26), Agostinho Carmelino Leão (1827-30), Jacinto Antônio de Brito (1831-34 e 1845-48), Felipe Rodrigues Ladeia (1835-36), Joaquim Venâncio Gomes de Azevedo (1837-44), José Antonio Pimenta (1848-52 e 1861), Porfírio de Brito Gondim (1953-58), José de Souza Fraga (1859-60), Cipriano José das Neves (1862-65) e, finalmente, Gregório de Souza Barros (que, curiosamente, começara seu governo em 1866 - um ano antes da tal data da falsa "emancipação")

Portanto, a única explicação plausível para que um erro de tal monta tenha obtido tantos adeptos é mesmo a tal preguiça de ler... Claro que é mera especulação, carecendo de fontes, mas há alguns anos me ocorreu algo que parece corroborar tal hipótese: era aniversário da cidade (5 de abril, não confundam) e fui a um programa de rádio falar sobre. No meio da entrevista um espectador liga, identificando-se como professor da rede municipal de ensino (a mesma que ainda comemorava a data falsa) e me sapeca aquela mesma linha citada há pouco neste texto... "Professor" - disse-lhe, então - "volte mais 5 páginas, e leia, se não tudo, ao menos a primeira"...

Num país que não sabe cantar seu Hino Nacional, isto parece ser um pingo d'água no oceano - mas, na verdade, são os pingos d'água que fazem o oceano da ignorância ser o que é...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Cotas nas Universidades


Anos atrás ouvi de um ex-comunista (e hoje até os comunistas são ex) que o Brasil deveria privatizar as universidades. Para mim, fruto do ensino público e gratuito toda a minha vida, aquilo soou como heresia. Não por mim, mas justamente porque quem o dizia havia não somente estudado todos os três graus pelo ensino público: mas porque justamente ele se beneficiara do dinheiro público até para morar na capital, enquanto se preparava para entrar na faculdade e durante todo o tempo em que lá ficou, numa residência estudantil mantida pela prefeitura...

Na época, meu único argumento foi perguntar-lhe:

O Brasil lhe deve muito, não? Pois você usufruiu da gratuidade toda a vida e agora, quer fechar as portas aos que não lá chegaram.

O escritor Luis Fernando Verissimo, que quando fala sério fala como poucos, nos dá uma demonstração sucinta de como vemos a reação da sociedade "não-racista" brasileira contra a instalação do sistema de cotas nas universidades...

Diz ele, comparando Brasil e EUA: "A diferença entre um país e outro é essa. Lá o racismo é uma questão nacional. Aqui uma ficção de integração dilui a questão racial. E se a questão não existe, se ninguém é racista, por que nos preocuparmos com denominações corretas ou incorretas? Só quando a ficção é desafiada, como no caso das cotas universitárias, é que aparece o apartheid que não se reconhece."

Vivemos um apartheid brasilis, uma aberração que sempre (desde quando a escravidão vigia) tolerou uns dois ou três por cento de negros nos meios sociais mais abastados. Uma cifra que não se altera, mesmo no século XXI - e que o sistema de cotas insiste em querer alterar...

Gostamos, como na imagem acima de Rugendas, de olhar a massa de nossas janelas, partilhando a mesma visão: uns, morando nas mansões, os outros nas mansardas...

Testemunhei muitos casos de racismo ao longo de minha vida. Racismo verbal, claro, ou a "coisa" seria mesmo caso de polícia. Ser "branco" nos permite ser tomado por "cúmplice" de tais comentários. Mas um deles foi constrangedor: um comerciante me dizia barbaridades a cada contradição que lhe retrucava e, no calor de sua desfaçatez, um cliente, negro, entrou. Eram amigos, e o tal comerciante não o vira e continuou seu discurso. Não era pessoal, mas era ofensivo. O constrangimento foi tanto que eu já me preparava para dizer a verdade e nada mais que a verdade quando ambos, vendedor e comprador, finalmente vendo-se mutuamente, seguiram adiante como se absolutamente nada houvesse ocorrido...

Mais tarde, procurei o amigo que chegara e lhe perguntei o que achara daquilo que havia escutado. Não sei o que esperava como resposta, mas a que obtive foi um "deixa pra lá", "já estou acostumado" e "fulano é assim"...

Não sei por quem ele me tomara - se por um cúmplice, mais um dos autores do apartheid brasilis - aquele que "não se reconhece" - mas o fato é que tudo continuava como dantes. É melhor ir deixando pra lá, fazendo de conta que somos mesmo todos iguais, que o Brasil pratica a mais perfeita interação social e... ainda tem coragem de falar contra a mais que urgente reparação...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Direitos subumanos



Desde os idos da ditadura militar que assistimos dois movimentos distintos que resultaram numa catástrofe criminológica no Brasil: de um lado, governos e oligarquias fazendo leis voltadas para a proteção do criminoso e, de outro, os movimentos de luta pelos direitos humanos reclamando dos excessos das forças públicas.

Leis passaram a criar privilégios cada vez mais voltados a dificultar a prisão de infratores, sua rápida libertação quando presos ou condenados – sempre, claro, favorecendo as classes mais abastadas.

O que o legislador não previa era que, se imaginava estar se auto-protegendo ou a seus eventuais filhinhos transgressores, o criminoso comum passaria a ficar mais e mais organizado e rico – capaz de penetrar as chicanas criadas e conseguir os benefícios legais para perpetuar-se no crime transformado em lucrativo negócio.

O sistema jurídico brasileiro acata todas as benesses, não havendo qualquer distinção se o criminoso foi um ladrão eventual ou contumaz; uma vida humana cobardemente extirpada paga-se com três, quatro anos – e olhe lá.

Não se pode discutir ressocialização de presos na atual situação brasileira. Deve se discutir, isso sim, penas efetivamente maiores para crimes maiores: nada, mas nada mesmo, justifica que se tire uma vida – e temos sendo libertados em poucos anos quem tira várias.

Tampouco há que se defender inimputabilidade para quem, de posse duma arma de fogo, sai para praticar um assalto seguido de morte: não há como alguém alegar não saber para que serve uma arma, carregada de balas, e que a levava consigo deliberadamente para uma prática criminosa: quer tenha catorze anos, quer oitenta.

Crimes contra a vida deveriam ter pena mínima de vinte anos: mínima efetiva, sem qualquer “benefício”. Não se pode crer em justeza de pagamento para a sociedade com a perda de uma vida humana por tempo menor!

O máximo de pena prevista em nossa Constituição é uma falácia, e um acinte: nunca é cumprido, senão por pobres coitados ou pelos insanos; e, como falar em quitação para com a sociedade de alguém que dolosa e cobardemente elimina um pai de família?
A verdade é que este sistema legal de privilégios aos criminosos criou o atual estado de crime que compensa, no Brasil; somos uma sociedade da tolerância com aqueles que nos matarão, roubarão, drogarão nossos filhos, porque nosso legislador fez leis que beneficiam a si próprios, quando apanhados em falcatruas ou aliados ao banditismo.

Não é algo simples, ser criminoso: é preciso ter dinheiro – o que as organizações supriram com facilidade, aliciando mais seguidores. Também alicia-se dentre os mais jovens: a impunidade é certa.

Em nome de pseudo-direitos humanos, e com coisas como a divisão das polícias em duas entidades (civil ou judiciária e militar ou ostensiva), aliados a um judiciário fraco, uma sociedade como a brasileira apresenta-se em permanente estado de guerra: matamos como se a vida, aqui, fosse um bem menor...

Presidentes articulam mudanças na Constituição para ampliar seu tempo no poder; sociologicamente apresenta-se como intelectual, mas apenas contribuiu para aumentar essa guerra em que o cidadão inocente é sempre a vítima. Outro fica também oito anos, mas nenhum, quer esteja à direita ou à esquerda, apenas pensam em como perpetuar o atual estado de coisas, mantendo-se em suas posições.

Penso que nenhum país tem policiais tão despreparados como o nosso – e olha que já estamos a emprestar dinheiro ao FMI... Nenhum governante investe em treinamento da polícia investigativa; nenhum esforço se faz para tornar as penas mais duras na própria Constituição, e muito menos para criar meios de punir o criminoso e garantir a vida...

Acabamos de ouvir o Roberto Jefferson dizer que ele foi punido em excesso com mais de dez anos de cassação (realmente são apenas oito anos) enquanto governadores ficam somente três anos cassados. Que defende ele? Claro: a redução da pena dele! Nunca, mas nunca mesmo, veremos um discurso dizendo que a cassação por três anos somente é uma indecência – como de fato é.

Falar em direitos humanos de quem está nas infectas penitenciárias do Brasil é fácil. Difícil será um dia vermos tais “defensores” mudarem o discurso e verem que a tortura do Estado pode ser combatida numa democracia; mas a tortura feita aos cidadãos pelos impunes criminosos não encontra qualquer instância.

Erros judiciais podem ser revistos; como rever os acertos das balas perdidas?

O resultado do Brasil de hoje, onde o crime compensa, está num crescendo que urge uma reação global da sociedade: penas mais severas, uma polícia unificada, científica e acessível, judiciário menos moroso e, na base de tudo: leis processuais menos afeitas à liberdade de quem não a merece, efetivamente.

Pena, ao contrário do que dizem, não é para educar, não: é para punir e pagar, antes de tudo: nada educa mais do que isto sendo verdade.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Supremo corte no Brasil


Quando o Ministro Hermes Lima, da vizinha cidade de Livramento do Brumado, irmão da falecida amiga Helena Lima Santos - autora do livro maior sobre Caetité - integrou o Supremo Tribunal Federal, não poderia imaginar que em pouco tempo o país iria mergulhar não somente em uma ditadura - mas na vergonhosa subserviência do Judiciário ao poder militar, e a todo tipo de falcatruas "legais" que o Brasil ainda não se livrou...

Foi Hermes Lima quem, antevendo o assassinato do amigo Anísio Teixeira, engendrou seu ingresso na Academia Brasileira de Letras, imaginando assim evitar a sua morte pois os milicos não teriam coragem de eliminar um Imortal da ABL. Anísio, entretanto, foi morto depois de sair da casa do Aurélio Buarque, última das visitas que tinha a fazer...

A Corte Suprema, como de resto toda a estrutura judicante brasileira país afora, dobrou a cerviz ao regime. Fez-se silente sob os AI-5, obedeceu à "constituição" forjada para eliminar os direitos e abriu margem para, por toda a parte, a venalidade assomar como regra - e não como exceção fácil de ser combatida e extirpada.

De instância maior, passou antes a ser foro "privilegiado" dos privilegiados, mero juízo ordinário para classes que, num verdadeiro ESTADO DE DIREITO, deveriam ser tratadas sob o pétreo ditame (constitucional, máxima vênia) de que todos (todos) são iguais perante a lei...
Instância da desigualdade, fruto duma ditadura promíscua, o tribunal supremo é mesmo ainda ocupado por antigos compadres do "gerente maior" e por amigos da Corte - não a Corte das togas, mas aqueloutra, dos feudos...

O sorriso que vemos na imagem - como se pode sorrir quando se está sendo acusado de falar aos "capangas"? - é para mim o símbolo de tudo o que ainda precisamos mudar em nosso Brasil.

Mas, apesar do nosso triste passado recente (e ainda presente), brotam Homens como Joaquim Barbosa!

Ao Ministro Joaquim Barbosa o Brasil de homens sérios e honestos diz um imenso OBRIGADO - por dizer aquilo que temos calado - ainda, por falta de seriedade em muitos dos Poderes da República - na garganta...

Joaquim Barbosa, como um dia improvisou Castro Alves, faz verdade o canto que diz:

A lei sustenta o popular direito
Nós sustentamos o Direito em pé!



Por a nossa nação ter possuído homens como Hermes Lima, e ter homens como Joaquim Barbosa - podemos nunca abandonar o sonho de derrotar os cínicos e os venais, de vencer os subservientes e os lenientes...


Justo quando o Brasil assistia cobrir-se sob o manto vergonhoso de quem ri-se de tudo e de todos, mesmo que não esteja falando aos capangas, eis que Joaquim Barbosa nos redime, sob a cor de África - como quando Luiz Gama erguia o Direito enquanto o direito legitimava a servidão!


Joaquim Barbosa, assim, faz a fênix do Direito ressurgir, e ergue bem alto a chama da Justiça: a Justiça que ainda teremos!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Moinhos de vento


Há tempos, brincando, dizia que para ser um Don Quixote faltavam-me moinhos de vento. Então inventaram de fazer moinhos de energia eólica em Caetité - algo ainda não concretizado, apesar da propaganda...

Quando (e se) os moinhos chegarem, sentir-me-ei um verdadeiro Cavaleiro de la Mancha! Estarei empunhando minha lança e lançar-me-ei contra os moinhos - em verdade a gigantesca massa que chamo ignorância.

E, claro, quebrarei a cara. Sempre quebramos a cara, quando aliamos a prática ao discurso, e vice-versa. Acho que por isto sou tão "querido" em alguns lugares.

Claro que não sou idiota para frequentar onde não me queiram - mas tampouco sou hipócrita para fingir gostar dos que alimentam tais gigantes que sonho combater.

Outra noite, por exemplo, saí em busca dum espetinho de gato, desses vendidos nas ruas, para dar aos meus cães (não, eles não fizeram nada especial para merecer tal regalia, estavam apenas com fome) e me encontrei com alguém desses...

Tivera eu uma visão melhor, sobremodo à noite, teria seguido adiante - mas já eu estacinava, quando notei tal presença...

Odeio "invadir" o espaço alheio... Acho que me basto para ter de partilhar-me com quem não gosta de mim. Prefiro, sempre, sair, ou simplesmente nem ir - quando sei previamente. Mas não era o caso.

Porque algo ao menos já aprendi. Não dá, mesmo quixotescamente, para falar ou fazer nada quando alguém já se fechou para qualquer recepção emanada de outrem. Restar-nos-á recolher a lança ponteaguda, mesmo que com sofrimento, e não alimentar sequer a esperança de que as ilusões de um mundo melhor não são para todos...

E, nestas horas, lembrar que há Sancho Pança.

E, humilde e cobardemente, dar espaço para a ignorância.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Surpresas

Muitas vezes nos surpreendemos com a capacidade que têm as pessoas em destruir. Como na vida muitas vezes é assim, vicejam aqueles que acreditam na fórmula de que um espaço alheio é o que se quer ocupar - e nunca em tentar ampliar o ambiente, para que todos tenham vez e voz...

No mundo virtual não é diferente - pois são pessoas que estão por detrás dos computadores. Entretanto, e a imagem ao lado parece dizer isso, parecem existir ratos ocultos onde deveria haver um ser humano...

Pois apenas ratos se escondem para não serem encontrados... Ratos são animais ariscos, que espreitam sempre a melhor oportunidade para atacar a despensa e, como quase todos os roedores, acabam se proliferando.

Muitas vezes encontramos os ratos; poucos, entretanto, são os que conseguem vê-los, onde se ocultam.

Não sei ser assim; sei colocar meu nome, e ir com ele onde estou.

Mas ainda não aprendi a gostar dos ratos, escondidos sob pseudos nomes, escondidos no anonimato do cobarde que, um dia, atirou a pedra na vidraça e saiu correndo...