sábado, 12 de fevereiro de 2011

Alô? Nosco está?



COMO ANDA A ORTOGRAFIA EM CAETITÉ

O dia 10 de fevereiro foi para mim ocasião de constatar, com os sentimentos ambíguos de tristeza, por um lado, e de divertimento, por outro, que a língua portuguesa está a cada momento sendo mais e mais estrupicada...

Fizera eu então uma rápida visita ao Fórum Cezar Zama - que homenageia um grande escritor brasileiro nascido na Caetité "terra da cultura" - e acabei me deparando com um desses catálogos de telefones editados localmente.

Já de cara um anúncio chamou-me a atenção, ao grafar com letras em destaque, o endereço: "Avenida Wochiton Fernandes Teixeira"; e tal grafia se repetia em outros anúncios. Por curiosidade olhei como estava consignado na lista propriamente dita - e encontrei uma "Avenida Wokyton F. Teixeira"...

Seria apenas um erro por desconhecimento, já que o nome do saudoso médico Wóquiton Fernandes Teixeira era mesmo inventado. Mas ainda assim alguém que se proponha a escrever algo sobre uma cidade deveria, minimamente, consultar quem a conheça minimamente... Como respeito mesmo à memória de pessoas ilustres que já se foram...

A tal lista, porém, conseguiu ir além!

Não satisfeita em errar no nome do médico caetiteense que refundou o Hospital e Maternidade Santana, tratou de colocar o Governador-Geral do Brasil Colônia, Mem de Sá, como Mende Sá; o poeta Carlos Drummond de Andrade virou Carlos Drumont.

Pior mesmo fizeram com o Bispo da Diocese de Caetité, o Reverendíssimo Dom José Terceiro de Souza (1948 - 1957). Dom José tinha o sobrenome de Terceiro e foi, coincidentemente, o terceiro bispo da cidade. Mas a lista, claro, inovou! Ali, temos a rua D. José Iii!!! Seria, então, um rei de Portugal? Sim, porque jamais seria nosso antigo prelado - afinal Terceiro era seu nome, não um título; mesmo sendo o terceiro bispo, foi o primeiro a se chamar José...

Pior foi acessar um site em que havia o link para o contato; no cabeçalho estava correto: Fale conosco. Mas, abaixo da janelinha para contato, havia uma mensagem que reproduzimos acima: "Se preferir pode entrar em contato com nosco"...

Parece que vivemos numa cidade de escritores que não mais sabem escrever... Mas a realidade é outra: o descuido com a língua, com a história, é reflexo não do imediatismo - mas da preguiça mental, da falsa economia que faz com que os registros que passem ao futuro guardem do presente uma triste realidade de ignorância e de fajutas publicações...

Contratem revisores; coloquem seus nomes para que todos saibam quem está a fazer essas - com o perdão da palavra - cagadas...

Que se nosso rico comércio paga por tais anúncios, que ao menos seus filhos e netos, lá adiante, não sintam vergonha de verem como no século XXI eram burros seus anúncios...

E, para finalizar, faço um convite aos leitores para acessarem a Wikipédia, para lerem o verbete sobre o pioneiro do presbiterianismo no Brasil, o Reverendo Henry John McCall. Ali, graças a mim e ao belo trabalho de um pesquisador protestante, vemos não somente a grafia correta do nome deste inglês que em Caetité fundou a Escola Americana, mas sua biografia - que merece ser lida e admirada. Porque quem quer que suba a Avenida Santana e encontre a primeira travessa a ligar esta importante artéria com a Rua Barão de Caetité, encontrará uma placa a grafar "travessa Rev. MACAL"*...

Triste Caetité... terra da cultura apagada...

*Justiça seja feita: ao tempo que demorei para publicar esta postagem a placa com o nome da rua do reverendo Mc Call foi consertada - e seu nome devidamente consignado de modo correto.