quinta-feira, 17 de março de 2011

Stefan Zweig e seu Fouché



Estava, numa das prazerosas tertúlias com o velho bacharel Eutropio Neves de Oliveira, lamentando jamais ter lido algo do escritor teuto-judeu Stefan Zweig, que meu amigo João Batista de Castro Jr. – hoje exilado nos pináculos da função – dizia ser o maior biógrafo que já houve, ele que é um ledor voraz de biografias.

Eutropio, claro, declarou possuir algumas obras dele e logo concertamos o empréstimo – para mim algo alvissareiro: não poderia mais deixar em silêncio quando me lembrasse do escritor austríaco que, fugindo ao nazismo, veio a se suicidar no Brasil: já terei lido o autor!

Foi assim que o volume Joseph Fouché: Retrato de um homem político (tradução de Medeiros e Albuquerque), de 1945, me veio ter às mãos. Quem seria este Fouché? Eutrópio mostra-se surpreso com minha ignorância; mas saio pela tangente, dizendo-me desinteressado por coisas de França e, mais ainda, de sua Revolução...

Uma mentira parcial: já li, por exemplo, o Otto Flake, e seu confuso relato sobre as agitações que começaram na Bastilha e terminaram com o tenente corso tomando o poder, além de tantos artigos a respeito (afinal, foi por conta deste certo Napoleão que o pessoal da Lusitânia tomou os navios e veio ter ao Brasil, atrasando a emancipação de Caetité: como esquecer deste tal Bonaparte?! He, he...)

Pois bem, fui então apresentado ao Fouché: o maior traidor da política, um homem que sobreviveu, mantendo-se sempre na crista da onda, ao período mais conturbado da história francesa.

Ovídio Teixeira, o velho senador caetiteense, dizia que em política só uma coisa é certa: a traição. Então, quem quer compreender este fenômeno politico – a perfídia – terá nesta biografia um exemplo vivo.

Olhando à volta, onde os edifícios antigos caem face o “nada de novo”, a felonia não surpreende; vem de todas as partes, até mesmo daqueles que pregam não de Judas, mas de sua vítima...

Mas uma lei inexorável, sempre, está a reservar desagradáveis surpresas aos traidores: e Fouché foi ele mesmo o exemplo disto (algo que Zweig não diz, apesar de narrar). A vida obedece, sem escapatória, à lei de ação e reação, segundo a qual pagamos o preço justo segundo aquilo que adquirimos.

Alguns, como Joseph Fouché, demoram-se na ilusão. Aqueles que, anos a fio, o assistem, podem mesmo duvidar da existência de uma Justiça Maior. E, quando esta Justiça se faz sentir, inexorável, inevitável, são poucos os que a vêem.

Terminei de ler a obra, nas páginas amareladas do papel com quase 70 anos. Stefan Zweig não viu a Justiça agindo sobre Fouché, mas poucos livros narram a Justiça agindo, como esta biografia do célebre traidor.